Seca no Semiárido, crise hídrica e mau uso da água: uma realidade que assola o Brasil.
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Publicado em 12/01/2019

Seca no Semiárido, crise hídrica e mau uso da água: uma realidade que assola o Brasil.

O histórico de sucessivas secas ao longo dos últimos 60 anos estigmatizou o Nordeste.

A escassez de água imprimiu na região um retrato difícil de esquecer: mulheres andando a pé por longas distâncias sobre o solo rachado, com latas de água na cabeça, crianças desnutridas, sentadas em frente a casas de pau a pique, barrigas proeminentes e desproporcionais aos corpos franzinos, vestidas com roupas simples, surradas e encardidas, em contraste com a pele muito queimada de sol; uma população resignada à fome, animais mortos à míngua, de sede, pelo sertão do país.

A seca que aflige o Nordeste há anos, ao mesmo tempo que se repete, se espalha pelo país. Em parte, pela situação climática em que o Brasil em se encontra e em parte, pelo mau gerenciamento dos recursos hídricos disponíveis.

O relatório Conjuntura Recursos Hídricos Brasil, desenvolvido pela Agência Nacional das Águas desde 2012, faz um panorama da disponibilidade e escassez da água no país. A última publicação, com dados de 2017, foi editada em dezembro de 2018, e mostra que o Semiárido brasileiro, que abrange estados do Nordeste e Sudeste, é a região mais crítica do país, quando se fala em demanda por recursos hídricos.

O resultado disso é que, dos 38 milhões de brasileiros assolados com a seca em 2017, 80% vivem na região Nordeste. Também foi a seca a responsável pelo decreto de estado de emergência ou de calamidade pública em mais da metade dos municípios brasileiros, como aponta o estudo.

O produtor rural, Robério Mota, conhece essa realidade de perto. Dono de uma propriedade em Monte Santo, na Bahia, ele relata que viveu um longo período de estiagem:

Sonora: “Agora em janeiro iria completar 3 anos de secd. Ou seja, 3 anos sem captação de água. Chovia de forma esporádica, mas fina, e não tínhamos água.”

Para não deixar a criação morrer de fome, Robério recorreu à vegetação típica do sertão, como a palma forrageira:

Sonora: “Minha criação sobrevive de palma, temos também a macambira, típica da região e temos também o mandacaru. Que a gente dá ração aos animais. É assim que a gente sobrevive.”

O Brasil lidera o ranking mundial de países com maior quantidade de recursos hídricos renováveis. Mas apesar da abundância de água, esses recursos são distribuídos de maneira desproporcional.

Além disso, não é toda água disponível que pode ser consumida, como explica o coordenador de Conjuntura e Gestão de Informação substituto, da Agência Nacional das Águas, Marcos Suckner.

Sonora: “Muitos dos nossos corpos hídricos estão poluídos, principalmente em função da principal fonte poluidora do país, que é o esgoto doméstico e urbano, pela indústria etc. O lançamento do esgoto urbano impacta na disponibilidade de água e fazendo com que muitos dos rios que poderiam atender à  demanda de muitas cidades ou para muitos usos, não apresentem uma qualidade de água compatível para o uso.”

E foi justamente a má utilização dos recursos naturais, associada à redução dos índices de chuva, que levou algumas unidades da Federação, como o Distrito Federal, a mudar os hábitos de consumo e utilização da água para superar crise hídrica. Ouça o relato dos moradores:

Morador 1: “Nós optamos por lavar a roupa apenas uma vez por semana. Não se lava mais carro, não se lava mais calçada.”

Moradora 2: “Tomar banho, enquanto ensaboa, daí desliga o chuveiro. Enquanto ensaboa a louça, desliga a torneira e enxágua tudo de uma vez com uma vasilha.”

Atualmente, a irrigação de lavouras consome 52% da água retirada no Brasil, 23% são destinados ao abastecimento humano e 9% ao suprimento da indústria. Os 15% restantes são distribuídos para outras atividades.

A estimativa da Agência Nacional das Águas (ANA) é que o consumo de água aumente à medida que haja um crescimento populacional - a retirada de água pode chegar, até 2030, a um volume 24% maior do que o atual.

Esse aumento, associado a fatores como falta de investimento em infraestrutura hídrica, má utilização dos recursos disponíveis e a redução do volume de chuvas, podem levar o Brasil a enfrentar novas crises hídricas.

E, segundo especialistas, enquanto não houver ações efetivas e investimentos adequados para o uso consciente de recursos hídricos, a seca e a escassez de água serão problemas recorrentes, e cada vez mais graves. 

Fonte: Rádio Agência

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